OZCAST

OZCAST #10 | Mulheres no audiovisual

March 09, 2021 Oz Produtora Season 1 Episode 10
OZCAST #10 | Mulheres no audiovisual
OZCAST
More Info
OZCAST
OZCAST #10 | Mulheres no audiovisual
Mar 09, 2021 Season 1 Episode 10
Oz Produtora

Uma pesquisa feita pela Ancine em 2018 sobre a participação feminina na produção audiovisual brasileira mostra que há uma disparidade entre os gêneros quando se trata de posições de liderança ou funções criativas. Entretanto, percebe-se que quando se trata de produção executiva há um certo equilíbrio, e somente na área de direção de arte existe uma prevalência feminina, de 57%.

Funções como direção, roteiro e fotografia são em grande maioria ocupados por homens também.  Nestes cargos, temos somente entre 12% a 20% de participação feminina, enquanto a presença masculina chega a 60 e 80% de ocupação nestes espaços.

Precisamos falar sobre isso!

INSIGHTS

Marília Pimenta
PURL - Pixar

Amanda Castro
Ted Talks - Chimamanda Ngozi Adichie

Recy Cazarotto

Facebook: Mulheres do Audiovisual Brasil

Instagram: @gabipcd e @claricesemarias

Os homens explicam tudo para mim - Rebecca Solnit

Maria Fernanda Lôbo

Olhares Negros: Raça e Representação - Bell Hooks

Facebook: Indique uma Preta

FICHA TÉCNICA

Roteiro
MARÍLIA PIMENTA
AMANDA CASTRO
RECY CAZAROTTO
MARIA FERNANDA LÔBO

Edição
DIANA RAGNOLE


Divulgação
MARÍLIA PIMENTA


Gravação e produção
GUS BELEZONI

Arte gráfica
FRANCIS FIDÉLIX


Motion graphics
VIDEOMATIK

MAIS SOBRE A OZ
www.ozprodutora.com

SIGA A OZ NO INSTA
@ozprodutora

Show Notes Transcript

Uma pesquisa feita pela Ancine em 2018 sobre a participação feminina na produção audiovisual brasileira mostra que há uma disparidade entre os gêneros quando se trata de posições de liderança ou funções criativas. Entretanto, percebe-se que quando se trata de produção executiva há um certo equilíbrio, e somente na área de direção de arte existe uma prevalência feminina, de 57%.

Funções como direção, roteiro e fotografia são em grande maioria ocupados por homens também.  Nestes cargos, temos somente entre 12% a 20% de participação feminina, enquanto a presença masculina chega a 60 e 80% de ocupação nestes espaços.

Precisamos falar sobre isso!

INSIGHTS

Marília Pimenta
PURL - Pixar

Amanda Castro
Ted Talks - Chimamanda Ngozi Adichie

Recy Cazarotto

Facebook: Mulheres do Audiovisual Brasil

Instagram: @gabipcd e @claricesemarias

Os homens explicam tudo para mim - Rebecca Solnit

Maria Fernanda Lôbo

Olhares Negros: Raça e Representação - Bell Hooks

Facebook: Indique uma Preta

FICHA TÉCNICA

Roteiro
MARÍLIA PIMENTA
AMANDA CASTRO
RECY CAZAROTTO
MARIA FERNANDA LÔBO

Edição
DIANA RAGNOLE


Divulgação
MARÍLIA PIMENTA


Gravação e produção
GUS BELEZONI

Arte gráfica
FRANCIS FIDÉLIX


Motion graphics
VIDEOMATIK

MAIS SOBRE A OZ
www.ozprodutora.com

SIGA A OZ NO INSTA
@ozprodutora

Narrador: Esse é o podcast da ozprodutora.com, apresentado por Gus Belezoni e Hygor Amorim.

Marília: Fala pessoal, eu sou a Marília Pimenta e sejam muito bem-vindos ao podcast sobre os bastidores da Oz Produtora e Novas Soluções Audiovisuais. 

Hoje eu invadi o posto do Gus e do Hygor pra falar sobre mulheres no audiovisual. Isso mesmo, hoje o mic é nosso, especialmente pra comemorar esse mês das mulheres, mas também porque tem muita coisa boa pra ser compartilhada por essas meninas incríveis que estão aqui hoje e que são coração pulsante, cérebro pensante em tudo que a Oz faz. 

Então a gente tem aqui a Amanda Castro, a Recy Cazarotto e a Maria Fernanda Lobo. Eu vou começar falando um pouco de mim e depois eu vou pedir pra que cada uma se apresente um pouco. 

Bem, meu nome é Marília, tenho 25 anos, eu tô na Oz há dois anos trabalhando com produção. Antes disso eu fiz estágio como editora em uma produtora de eventos sociais e também como operadora de estúdio na emissora afiliada da Globo aqui em São Carlos. Foi onde eu percebi que não me dou bem em rotinas e repetições, aqui na Oz eu descobri que eu gosto e que eu preciso de desafios e como todos aqui, eu me formei em Imagem e Som. Eu estou aqui muito graças à conexão que eu fiz com a Recy no curta que foi nosso trabalho de conclusão de curso, o Geralda, nele eu trabalhei como assistente de direção, que foi onde eu arrisquei pela primeira vez alguma coisa semelhante ao que eu faço hoje aqui na Oz e o engraçado é que nesse mesmo projeto, a Mafê, que na época era caloura, ela trabalhou como assistente, né Mafê. Fala um pouco de você também pra gente. 

Mafê: Oi pessoal, eu sou a Maria Fernanda Lobo, também conhecida como Mafê. Aqui na Oz eu trabalho com produção cultural. Eu sou do interior do Mato Grosso do Sul, Três Lagoas e há vários motivos que me fizeram fazer imagem e som, que é o curso que eu sou graduanda hoje, tô no último ano. Eu fui mediadora cultural no Sesc de São Carlos. Então, com 18 anos eu entrei na Imagem e Som, maravilhada porque eu era do interior e no interior não se fala, não se sabe, não se faz cinema, (pelo menos do interior de onde eu era), então pra mim cinema e Imagem e Som e tudo que era relacionado a isso, era uma coisa de outro mundo. Logo que eu cheguei, quis fazer parte de tudo e me infiltrar onde as pessoas estavam produzindo, que no caso foram os TCCs. E aí eu entrei em contato com todos eles e falei: “pessoal, me coloca onde vocês estão precisando de gente” e todos disseram que precisavam de gente na produção. Nesse primeiro ano eu fui assistente de produção em todos esses TCCs, que foi onde eu conheci a Recy e a Má também e tô na produção até hoje, me encantei pela área, uma área que eu gosto muito. Já que eu comentei da Recy aqui, vou passar a bola pra ela. E aí, Recy? Se apresenta aí.

Recy: Oi pessoal, eu sou a Recy, sou do interior de São Paulo mas cresci na capital e me mudei pra São Carlos também pra estudar Imagem e Som. Em 2015 tive a minha primeira experiência na Oz como estagiária, fiquei alguns meses nesse estágio de produção com a Amanda, e aí interrompi o estágio pra fazer um intercâmbio. Quando voltei pro Brasil em 2016, fui estagiária da EPTV, que afiliada da Globo em São Carlos, na parte da programação e da EPTV, o Hygor, diretor da Oz me puxou de volta, como assistente da Amanda, mas dessa vez como uma vaga fixa, não mais como estagiária. Até que no final de 2018 surgiu uma vaga na Oz Cultural como produtora executiva e eu acabei assumindo essa vaga. Foi quando a Marília entrou também como assistente da Amanda e mais pra frente a Mafê entrou como minha assistente já na Oz Cultural. 

A Oz Cultural é esse braço da Oz que cria projetos culturais, projetos próprios, financia, executa e distribui. E agora a Amanda pode se apresentar que é a única que falta.

Amanda: Oi pessoal, meu nome é Amanda, eu trabalho como produção de direção aqui da Oz há nove anos dentro da produtora, atuando há um pouco mais de 10 anos dentro da área. Também me formei na UFSCar, no curso de Imagem e Som. Durante a minha trajetória acabei fazendo MBA de gestão de projetos na Esalq USP. Pode parecer um pouquinho não-comum ouvir isso pra quem tá na área de cinema, mas pra gestão de projetos, pra área que eu atuo acabou fazendo todo sentido e eu queria dizer que é um prazer enorme ter essa abertura de falar um pouco desse assunto tão importante e conversar um pouquinho com vocês sobre essa temática tão atual.

Marília: Bom, viemos aqui marcar presença no OZCAST pra provocar uma discussão sobre os desafios e contradições que muitas vezes encaramos, pasmem, por sermos mulheres! E também sobre a presença das mulheres no audiovisual. Para esse último ponto, pela pesquisa feita pela ANCINE sobre participação feminina na produção audiovisual brasileira, e aqui estamos falando de dados de 2018, uma pesquisa feita apenas considerando obras de ficção, mas que já dá pra gente ter uma boa base dessa disparidade, a gente vai citar alguns pontos que merecem atenção: na produção executiva, a gente vê um certo equilíbrio entre os gêneros e apenas na direção de arte existe uma prevalência feminina de 57%. Já os cargos de direção, roteiro e direção de fotografia, são em grande maioria ocupados por homens. Só pra vocês terem  referência: nesses cargos temos de 12 a 20% de participação feminina, enquanto a presença masculina ocupa entre 60 a 80% destes espaços.

Até foi engraçado que enquanto a gente preparava esse podcast, a gente já veio com esse pressuposto de que isso é uma realidade e essa impressão que a gente tem todo dia por viver nesse meio, conversar com outras mulheres  que vivem nesse meio, só foi confirmada por essa pesquisa da ANCINE. Então pensando sobre isso, queria ouvir de vocês quando vocês perceberam que as mulheres são minoria no setor audiovisual? Quando que caiu essa ficha pra vocês?

Mafê: Pra mim, caiu a ficha desde quando eu era muito pequena. Começou com um certo incômodo que eu tinha por coisas na TV, no geral e não me ver representada, primeiramente na frente das câmeras e num segundo momento, quando comecei a pesquisar, quando fui ficando mais adulta, entendendo o porquê das coisas eu descobri que isso refletia também como as equipes são compostas por trás das câmeras. Por incrível que pareça isso me motivou a fazer cinema mais ainda, pra tentar adentrar esta indústria. Tem uma pesquisa que leva em consideração além de gênero, leva em consideração raça, então foi uma pesquisa feita pelo observatório do audiovisual na ANCINE em 2018, sobre os filmes exibidos em salas de cinema em 2016. Essa pesquisa indicou que houve uma ausência total de mulheres negras nas principais funções que implicam nas decisões narrativas, de roteiro e de direção. A pesquisa também indicou que pessoas negras compõem insuficientes 13,3% do elenco principal dos filmes, sendo 5% mulheres negras. Então é uma questão pra gente pensar em como compõe equipes, onde essas mulheres estão nas equipes além de elas estarem onde elas estão, quais funções elas estão ocupando. 

Recy: Era uma coisa que eu já sentia, mas que eu só percebi, de fato, quando entrei no mercado de trabalho mesmo. O momento de formação, seja, na faculdade, em algum curso livre, em algum curso de extensão, pra mim, eu sempre senti as turmas bem divididas, sempre era bem equilibrado, quase 50 e 50%. Mas aí se a gente entende que esses homens e mulheres se formam mais ou menos em igualdade, pra onde vão essas mulheres no mercado de trabalho? Elas estão formadas naquilo, elas sabem, pelo menos na teoria, como trabalhar. Por que elas não são absorvidas pelo mercado? Acho que talvez encontrar essa resposta pode ajudar bastante. No meu sentir foi esse, no mercado de trabalho que mostrou pra mim, escancarou essa realidade pra mim.

Amanda: Acho que meu caso é bem parecido com o da Recy. Durante a faculdade eu não tinha essa noção, nunca tinha parado pra pensar. Comecei a fazer o estágio e logo no meu segundo ano acho que foi a primeira vez que a minha ficha caiu. Eu entrei pra trabalhar na ilha de criação, na época eu trabalhava com edição e eu era a única mina no meio de quatro homens! Foi aí que eu parei pra pensar e falei: “nossa, onde estão as mulheres? Cadê elas? O que elas fazem? Que cargos elas ocupam?”. Acho que isso conversa muito com o que vocês acabaram de comentar.

Marília: Na Oz a gente ainda tem esse equilíbrio de quantidade, de mulheres e homens, mas a gente mesmo, todas nós trabalhamos com produção. É mais comum que as mulheres ocupem cargos como estes, e que as atividades criativas sejam mais ocupadas pelos homens. Queria ver se vocês têm algum palpite do porquê isso acontece.

Mafê: Sim, eu acho que tem uma questão. Vou retomar minha experiência de entrada na faculdade. Quando eu entrei, só fui fazer produção e eu não sabia bem o que era produção, não sabia quais as funções e eu lembro que eu perguntei pra um veterano meu o que um produtor faz, ele me disse: “a produção é a mãe do set”. Isso ficou na minha cabeça e eu fico me perguntando: será que eu quero ser a mãe do set? Eu acho que acontece em vários momentos e na maioria das vezes as pessoas associam muito a produção, esse lugar maternal e, consequentemente, ao lugar do cuidado e de modo geral também não vê como um lugar de estratégia, de extrema expertise.

Recy: Eu entendo que é uma área que a gente precisa muito ter uma habilidade emocional e de conciliar muitos interesses ao mesmo tempo. Por mais que a gente mexe com dinheiro, que tem essa parte racional, a gente justamente tem que manter contato com todas as áreas, conversar com alguém pra ceder um pouco ali e depois dar um pouco aqui, as pessoas tendem a associar essa característica conciliadora como uma habilidade feminina, assim como as atividades dentro da direção de arte, que foi citada como a área do audiovisual que mais possui mulher por envolver costura, maquiagem, cabelo, penteado, ou até habilidades manuais em geral, elas também tendem a ter esse estereótipo feminino por causa dessas questões.

Amanda: A gente tem que criar uma cultura de olhar pra produção que é um olhar que vai além do maternal, além de você distribuir funções e ficar cobrando função porque, também retomando muito das minhas experiências, principalmente na faculdade, existia muito “ah, a produção é aquela de cobra, aquela que vai atrás, que fica no pé”. E não, você não é mãe de ninguém. Eu acho que cada área tem seu líder, cada área tem seu responsável e não cabe à produção fazer essas cobranças pontuais. Ela tem que realmente tá preocupada com outras coisas: com planejamento estratégico, com a logística do trabalho, ou com algo que vai muito mais além desse trabalho de cuidado que a gente tava falando, que é como as pessoas olham a produção com esse olhar feminino não só na questão de você ser aquela de cuida do set, mas na questão também de que você tem que estar sempre doce, você não tem que falar coisas, não tem que falar sério. Parece que quando você fala sério, você tá brava por algum motivo.

Marília: Eu acho que é tanto limitante no sentido da gente deixar de buscar outros conhecimentos por achar que é isso, se profissionalizar num sentido mais estratégico quanto no sentido de que a gente poderia tá se preocupando com coisas que são mais importantes, que tem mais a ver com a nossa função e a gente tá gastando tempo, energia com coisas que não deveriam ser responsabilidade nossa. As pessoas talvez nem deveriam esperar que a gente fizesse isso por elas. Acho que isso afeta não só como a gente se sente na nossa função, mas como a gente de fato executa, né?

Amanda: 100%! Eu acho que vai muito além do você ficar fazendo microgestões e ficar cuidando do que cada área em si, enquanto líder, deveria cuidar.

Marília: A gente tá falando muito aqui sobre o que não é produção e não sei se todo mundo que tá ouvindo a gente conhece o que é a função da produção. Então se vocês puderem falar um pouco sobre o que é, só pra gente já minar essa dúvida de quem tá ouvindo, pode ser bem útil também. 

Amanda: Vou falar um pouquinho da produção no sentido de gestão de projetos. A produção vai muito além de você simplesmente cobrar as pessoas como a gente tava falando. Ela vai desde um planejamento de tudo que vai acontecer, uma gestão de equipe, uma gestão de custos do projeto, o acompanhamento do que tá acontecendo, mas não esse acompanhamento materno, um acompanhamento com olhar muito mais estratégico e voltado pro negócio e com a entrega dos filmes, ou dos produtos audiovisuais de fato. Então a produção é algo complexo.

Recy: Acho que a Amanda resumiu bem na fala dela. A questão da diferença entre produção executiva é que a executiva lida um pouco mais com dinheiro, mas também pode lidar com equipe, principalmente com a parte de contratação, formalização e regulação dessas contratações e a parte do dinheiro. Mas também tem todo esse pensamento financeiro, estratégico, às vezes logístico também, sempre com apoio da direção de produção que é, no caso da Oz, representado pela Amanda.

Marília: Bem, a gente conversou um pouco sobre essa confusão que às vezes a gente mesmo faz, sobre o que é o nosso papel como produtora e eu tenho a impressão de que isso acaba contribuindo para um sentimento que às vezes toma conta da gente que é o da síndrome da impostora. Quer dizer, às vezes a gente fica com essa sensação que não tem justificativa de que a gente não tá fazendo nosso trabalho como a gente deveria, ou a gente não tá fazendo nosso trabalho como as pessoas esperam de nós. E aí queria que vocês comentassem sobre isso, se isso é o problema ou porque que isso acontece.

Recy: Ah, eu acho que é um fato que, sim, acontece. Antes da gente começar a gravação eu tava pensando em como esconder isso, de uma forma de responder isso que não soasse tão dura, ou difícil ou dramática, mas na real, na minha visão, é porque eu acho que a gente é constantemente julgada, menosprezada e somos interrompidas em todos momentos, em vários espaços, mesmo pra além daqueles espaços profissionais. Você crescer ou viver num ambiente que te corta a todo momento, naturalmente a gente fica mais insegura, a gente duvida da nossa capacidade, nossa autoestima vai lá no pé e a gente se sente insuficiente, sente que não é capaz de fazer aquilo que as pessoas estão esperando da gente. 

Mafê:  Isso acontece por conta de uma questão que é estrutural, que é histórica, que é cultural, que duvida do potencial das mulheres o tempo todo. Não importa o cargo que a gente esteja, não importa o lugar que a gente esteja, a gente tá constantemente sendo observadas, sendo julgada, a forma como a gente fala, como a gente se veste… Então isso, consequentemente, reflete na forma como a gente se vê também. É impossível a gente construir nossa individualidade, a nossa identidade sem, também, o olhar dos outros. A gente chega no nível que a gente começa a duvidar de nós mesmas, a gente começa nos perguntar: “será mesmo que eu sou capaz? Algum momento alguém vai descobrir que eu não sou capaz de fazer isso” e a gente também começa impor certas expectativas que são irreais. A gente é constantemente frustrada por não chegar àquela perfeição que a gente mesmo espera da gente, que as pessoas esperam da gente também. Eu acho que é sobre isso, se permitir errar, se permitir aprender, se permitir testar, se permitir se permitir. 

Marília: Bem, eu acho que a gente falou bastante sobre as nossas percepções da presença da mulher no audiovisual. Acho que a gente não consegue abordar tudo, mas pelo pouco que a gente conversou, a gente sabe que o cenário ainda não é o ideal. Seria interessante se a gente finalizasse com boas vibrações, então queria que vocês trouxessem alguma recomendação sobre o que nós, meros mortais, dentro da nossa realidade pode fazer pra mudar esse cenário. Eu sei que é um trabalho de formiguinha, então a gente não precisa mudar tudo de uma vez ou fazer grandes ações, mas talvez em pequenas atitudes a gente consiga interferir de alguma forma, seja quem trabalha dentro das produtoras, quem é cliente, fornecedor ou se você é uma mulher e trabalha no ramo, trabalha no setor e se vê diante de situações como essa, como que a gente pode se portar pra iniciar essa mudança dessas pequenas realidades que a gente encara no nosso dia a dia. 

Amanda: Falando um pouquinho do olhar de dentro das produtoras, acho que o primeiro passo seria você realmente parar pra refletir na sua equipe, parar pra refletir as posições que as mulheres estão distribuídas, se existe realmente uma equivalência de mulheres e homens dentro dos cargos que são iguais, e enquanto tomador de decisão, enquanto pessoa que vai ir atrás de buscar e montar um time, sempre buscar pela diversidade, buscar por mulheres, buscar por mulheres negras, buscar pela diversidade de fato. Eu sei que às vezes é muito difícil a gente encontrar uma diretora de fotografia dentro daquela área na cidade que você precisa, mas acho que sempre vale a tentativa, essa é uma dica que eu trago. 

Recy:  E isso é muito uma coisa que realmente tá na nossa mão enquanto pessoas que vamos justamente formar e contratar. Eu concordo super com a Amanda na minha posição também de produtora executiva, tenho bastante desse poder e se nós não fizermos isso, ninguém fará. Vai ficar sempre na brotheragem dos caras, de indicação, então se não tiver um esforço da nossa parte em caçar essas profissionais mulheres, elas não vão chegar na gente.

Amanda: E não é uma coisa que a gente tá falando não só por vivência, é uma coisa que você pode ver nos números que a Má trouxe pra gente na introdução do episódio, algo real, algo factível.  

Recy: E eu acho que no sentido de formação, nós mesmos enquanto equipe, podemos formar essas mulheres, a partir do momento que a gente conhece e passa a contratar, tem essa possibilidade, claro, e que é muito importante, mas eu venho percebendo nos últimos anos, últimos mesmo, coisa de dois anos pra cá, que cada vez mais cursos, principalmente cursos livres têm apoiado nesse sentido, então dando bolsa pra mulheres, no sentido de bolsas de gênero e bolsas de raça também, com descontos, às vezes até bolsa 100%... porque se ainda assim na parte da formação acadêmica é equilibrado, mas isso não reflete no mercado de trabalho, talvez com esse estímulo de mais mulheres ainda sendo formadas, a gente consiga melhorar isso. Então apoio total às entidades, às escolas que têm esse tipo de política de bolsa pra minorias no geral. 

Mafê: Seja lá quem vai contratar, pense que isso pode ser um benefício pra pessoa que você vai contratar, mas também pro seu espaço e pra sua equipe de trabalho, porque aí você não vai cair nesse perigo de uma única história, mas é você pensar como que você vai criar, como você vai delinear os conteúdos que você vai produzir. Você quer um olhar só sobre aquilo? O mesmo olhar de sempre? Ou você quer diversificar, você quer um olhar novo? E um conselho também pras mulheres que estão aí na batalha, tentando entrar nesse universo do audiovisual, tentando entrar no mercado de trabalho: tenham uma rede de apoio. A gente ter essa rede de apoio de pessoas que são como nós ou que não são como nós, mas entendem a gente, estão ali pra nos apoiar, nos dar essa retaguarda, é imprescindível, então construam a sua rede de apoio. 

Marília: Isso aí, chegamos ao bloco de insights onde a proposta é compartilhar referências e dicas sobre a temática que a gente tá abordando nesse episódio, que no caso, mulheres no audiovisual ou a presença das mulheres no mercado. Eu separei como referência um curta de animação que eu assisti por acaso no Disney+, mas eu descobri que também está no YouTube, chamado Purl. Ele conta a história de uma novelinha de lã toda fofinha com rosinhas, com florzinhas e ela chega nesse escritório que todos os funcionários são homens, e é muito legal os desafios que ela se encontra, algumas situações que ela é colocada por ela ser muito diferente desses homens. É muito legal esse questionamento que traz que é: a gente deve se adequar ao meio que a gente tá, ou o meio que a gente tá, deve mudar? né… acho que é um questionamento muito legal esse curta traz. São doze minutos, então quem tiver a oportunidade de assistir, eu recomendo bastante. 

Amanda: Eu gostaria de indicar a obra em especial, o TED de uma escritora nigeriana que eu gosto muito, a Chimamanda. O TED chama O Perigo de uma História Única, tenho certeza e espero que suas palavras venham abrir os olhos de quem assistir pra um mundo muito mais amplo, principalmente pra um mundo mais plural. Eu acredito que nós todos somos plurais dentro do mesmo feminismo, dentro de realidades diferentes, dentro de vivências diferentes e isso torna cada história, cada ponto de vista especial e válido. Fica aí minha indicação pra gente ampliar nossos olhares.  

Recy: Eu fiz uma lista um pouco longa de indicações, mas vou me ater a duas específicas que acho que tem tudo a ver com o que a gente falou, principalmente nesse final, que é o grupo no Facebook de mulheres do audiovisual Brasil. Como o próprio nome já diz ele é um grupo de mulheres que atuam no audiovisual do país e ele serve pra tirar dúvidas, pra indicar profissionais, pra gerar debate com compartilhamento de notícia, até mesmo network entre mulheres e além desse espaço em si, a partir dele nasceram subgrupos, principalmente grupos de WhatsApp, com especificidades em comum que as mulheres também se reuniam. Só eu por exemplo, tô num grupo de mulheres produtoras, mulheres produtoras de São Paulo, assistente de direção, sei que existem grupos de roteiristas, de editoras mulheres, enfim, tudo criado a partir desse grupo maior que serve pra ser essa rede que a Mafê comentou agora há pouco, essa rede de apoio. Se a gente não tem alguém físico perto da gente, ainda assim a gente pode ter essa rede de apoio na internet.

E a segunda dica é o Insta da Gabi. A Gabi tem deficiência auditiva e o Insta dela funciona muito pra compartilhar conteúdos relacionados à acessibilidade no audiovisual e à inclusão de pessoas com deficiência dentro do mercado audiovisual de trabalho. É @gabipcd. Se a gente não vê essas pessoas, não tem realmente essa representatividade e acaba que elas existem e passa despercebido, então o conteúdo dela é bem importante em muitos sentidos.

Mafê: Meu insight é o livro incrível da Bell Hooks chamado Olhares Negros: Raça e Representação. Então pra todo mundo que tá interessado sobre esse assunto, quer pensar a forma de fazer cinema devia ler esse livro, a forma de olhar, a forma de ser olhado no cinema, devia ler esse livro. A minha segunda indicação é o grupo Indique uma Preta, é um grupo e também uma iniciativa, um projeto feito por mulheres negras pra inserção de mulheres negras no mercado de trabalho. Nesse grupo a gente se indica, a gente anuncia vagas que são pra mulheres negras, a gente conversa e forma justamente essa rede de apoio. Também é uma iniciativa que atende empresas, então se alguém se interessar e quiser tornar a sua equipe, a sua empresa mais diversa, elas também fazem esse trabalho de consultorias pra ajudar tornar a sua equipe mais diversa.  

Marília:  Queria fechar agradecendo a presença de todas vocês: Amanda, Mafê e a Recy. A gente passou muito frio na barriga, muito nervosismo e ansiedade pra tá aqui, mas foi muito produtivo. Acho que essa conversa é muito importante. Que seja o início de uma conversa aqui dentro da Oz quanto para outras pessoas fora da Oz. Acho que foi muito precioso esse tempo e queria agradecer a presença de vocês!

Amanda: Obrigada, Ma. Eu acho que ter esse momento de fala, esse espaço aberto, principalmente pra gente que tá sempre atrás das câmeras, não gosta de aparecer muito, com certeza é um desafio, mas eu acho que é um desafio importante e válido quando o assunto é representatividade. 

Mafê: Obrigada meninas da Oz pela oportunidade. Estou muito feliz de ter falado sobre isso aqui. Eu concordo com a Recy e com a Amanda, não é só no mês da mulher que a gente deve falar sobre essas questões. As pessoas existem a todo momento e precisam pagar suas contas e então é isso. Espero que surjam novas oportunidades pra mulheres e todas as minorias e todas em todas as empresas.

Recy: Obrigada, meninas. Acho o tema super pertinente não só no mês de Março, mas a todo momento. Que a gente tenha novas oportunidades de debater não só isso, como outros assuntos também porque, não é só porque a gente é mulher que a gente tem que ser reduzida a esse assunto. Mas é isso, obrigada!

Marília: Esse foi o episódio número 10 do OZCAST sobre mulheres no audiovisual. Temos episódio novo a cada 15 dias, então continue acompanhando a gente, compartilhe esse episódio, compartilhe o OZCAST com quem você conhece, assim você vai ajudar o nosso conteúdo, você vai ajudar nossa discussão a chegar a mais pessoas. E a sua empresa também pode ter um podcast, se você tiver interesse entre em contato com a gente. 

Narrador: Você acabou de ouvir ao OZCAST, o podcast da ozprodutora.com. Visite o site e conheça mais sobre a Oz. Deixe seus comentários e sugestões.